Eu sempre me indaguei a respeito dos motivos de tanta
audiência que tem o UFC. Uma luta que a realização plena da transformação da
violência, da força bruta sem limites, em espetáculo.
Multidões se reúnem para admirar esse show pelo mundo afora.
Aqui no Brasil, ficam acordadas madrugada adentro para assistir homens e
mulheres destruindo-se mutuamente, como se estivessem num Coliseu eletrônico.
Do outro lado da tela, romanos contemporâneos entorpecidos
pelo gosto da violência. Quanto mais hematomas, quanto mais sangue, melhor.
Eu lembro dos debates a respeito da violência do boxe de
décadas atrás. Hoje, eu vejo que o boxe é uma luta entre cavalheiros, cheia de
regras e de limites.
É possível até mesmo enxergar hoje alguma arte no boxe,
alguma beleza nos movimentos dos lutadores, alguma ética que limita os ataques
e lembra sempre que aquilo se trata de um esporte.
Eu lembro da ingenuidade do telequete, onde a violência era
apenas simulada, mas já me causava essa sensação de desconforto.
Já o UFC, é a força bruta transformada em arte-marcial, onde
lutadores já inconscientes continuam a receber sem misericórdia violentos
golpes na cabeça, como se vencer justificasse tamanho ato de animalidade.
E é exatamente nesse momento que a massa entra em delírio,
como se desejasse que o juiz jamais parasse a luta.
Quando eu vi hoje a foto da perna de Anderson Silva se
partindo ao meio e os vídeos mostrando em câmera lenta como isso aconteceu, eu
percebi que não era um membro de um lutador brasileiro e seu destino que
estavam em jogo: era nossa humanidade, de quem nos distanciamos mais a cada
dia.
Por isso, foi inevitável a lembrança da eterna frase de
Chaplin e do quanto ainda vale que ela seja repetida hoje:
"Não sois máquina!
Homens é que sois! E com o amor da humanidade em vossas almas! Não odieis! Só
odeiam os que não se fazem amar. Os que não se fazem amar e os inumanos!"
Pensamentos Múltiplos
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